Octeto entrevista: Rodrigo Mattar

Oi gente! O Octeto Entrevista de hoje tem um convidado especial, o jornalista Rodrigo Mattar, editor dos programas Grid Motor e Linha de Chegada, ambos da SporTV e do site "A Mil por Hora".

Rodrigo foi muito atencioso em atender o nosso convite para participar desta entrevista e fico contente porque achei que foi um papo muito bacana. É difícil entrevistar um colega de profissão!!!! hehehehe...

Bom, agora é com vocês. Tenho certeza que vocês vão gostar da entrevista deste carioca da gema apaixonado por Fórmula 1.



1. Rodrigo, fale-nos um pouquinho sobre você. Como se tornou jornalista especializado em automobilismo? Foi algo que você procurou ou aconteceu naturalmente?
Acredito que isso tudo começou há 30 anos! Eu era uma criança quando comecei a acompanhar corridas de Fórmula 1. Tenho lembranças remotíssimas do GP do Brasil em Jacarepaguá em 78 e do acidente de Ronnie Peterson em Monza. Mas a primeira temporada que assisti foi a seguinte, em 1979. Em 80, não perdia uma corrida, acompanhando apaixonadamente a luta do Nelson Piquet com o Alan Jones. Dessa paixão fulminante nasceu o desejo de ser jornalista. E cresci com essa idéia na cabeça. Entrei pra Faculdade em 1991, em 1996 passei um tempo como estagiário do Jornal do Brasil e depois disso, passei por uma assessoria de imprensa – uma experiência não muito recompensadora – até conseguir um outro estágio, agora na Globo, em 1998. Eles só foram saber o quanto eu gostava de automobilismo quando eu pedia pra acompanhar a coordenação das transmissões de treinos e corridas naquele ano. E assim foi até 2003, quando fui para o SporTV.

2. A paixão pelo automobilismo é herança de família ou algo que você aprendeu sozinho?
Nunca existiu um outro parente meu, quer seja de pai ou de mãe, que fosse jornalista. Então isso tornou a paixão ainda mais latente. Na verdade, meu próprio pai foi o culpado disso tudo, despejando mensalmente exemplares da Quatro Rodas ainda na fase áurea. Tempos depois conheci a Auto Esporte. De 81 a 83, ainda comprei as duas. A partir de 1984, tornei-me leitor assíduo da Auto Esporte. Um dos meus heróis da época era o Marcus Zamponi, o grande Zampa, que hoje me chama, sempre que me vê, de “turco fdp”. Detalhe: sou neto de libaneses, por parte de mãe. Levo a brincadeira do Zampa na esportiva, porque tenho por ele a maior admiração, talvez o melhor texto do jornalismo automobilístico brasileiro em qualquer tempo.

3. Além do blog “A mil por Hora” você também é comentarista da SporTV, e editor dos programas Grid Motor e Linha de Chegada. Como é cobrir o automobilismo em segmentos diferentes?
Fácil não é, mas a gente aprende rápido. Quando em 2003, do nada, recebi um convite pra fazer um teste pra comentarista, ideia do então diretor do SporTV, Emanuel Castro, não acreditei. Minha primeira transmissão foi uma prova da Stock Car em Jacarepaguá – ainda com a pista completa, de grande saudade – que o David Muffato ganhou. Lembro que eu tremia todo, dos pés à cabeça, de tanto nervosismo. O locutor que fez a transmissão comigo – João Guilherme – falava pra eu ter calma e que o microfone era “meu amigo”. A primeira experiência foi desastrosa, mas gostaram. Aí aconteceu outra coisa engraçada: o Gualter Salles, que fazia os comentários da Nascar nos primeiros compactos exibidos pelo canal ainda em 2003, foi convidado pra correr na ChampCar e aceitou. Sorte minha, porque aí é que pude deslanchar. Então, indiretamente “agradeço” ao Gualtinho pela oportunidade.
Escrever é menos complicado do que lidar com o microfone, porque na televisão você tem que vencer sua timidez. Sua personalidade e seu caráter também são postos à prova em tudo o que você opina. E o torcedor brasileiro é muito passional. É chato porque sempre tem um leitor mais radical no blog, mas eu adoro escrevê-lo. Dou minha contribuição ao automobilismo sem esquecer as coisas que gosto – como música e cinema – porque acho necessário preencher uma lacuna existente aqui: falar de outros campeonatos que não a Fórmula 1. Então procuro enfatizar as provas de protótipos e outros certames menos votados e os leitores gostam. Mas quando o assunto é mais polêmico, vide a decisão do Mundial de 2008 e o Escândalo de Cingapura, é que o “A Mil Por Hora” ganha mais pageviews e mais audiência.


A visão e participação feminina no automobilismo

4. A participação feminina nas pistas ainda é tímida, mas fora delas já é grande. Temos jornalistas especializadas, engenheiras, blogueiras e torcedoras. O que você acha desta visão feminina sobre o esporte?
Quem disse que lugar de mulher é na cozinha perdeu o bonde da história. A mulher é independente faz tempo. E o esporte é democrático o bastante para permitir que elas possam interagir, entender, torcer, participar, gostar, trabalhar e ganhar dinheiro. A visão feminina sobre o automobilismo é fundamental, até porque são as mulheres que ditam as regras na hora de comprar um carro. Homem não decide nada nessa hora, não apita nada. A palavra da mulher pesa mais que uma rocha na hora de escolher o modelo numa concessionária.
No mais, acho ótimo que o sexo feminino ocupe seu espaço no esporte a motor. Já tivemos mulheres vencendo corridas e marcando pole positions. Claro que houve exceções – eu, por exemplo, acho que a Milka Duno está longe de ser competitiva – mas quando se vê uma Bia Figueiredo dando pau nos marmanjos, a gente pensa o quanto bacana é ver alguém quebrando velhos preconceitos e expandindo o horizonte do pensamento alheio.

5. Agora é hora de falar sobre automobilismo mesmo. Como você vê a situação do cenário nacional em termos de pilotos? Independente de categoria, o Brasil tem futuro no automobilismo mundial?
O Brasil é um país de terceiro mundo com um automobilismo inversamente proporcional à sua situação sócio-política. Em outras palavras, quero dizer que desde Chico Landi temos pilotos de primeiríssimo nível. Mas a situação do esporte vai mal fora da pista. E eu explico o porquê: dentre todas as modalidades, o automobilismo é o único que não recebe um tostão do governo federal para o seu desenvolvimento. Os autódromos, com exceção de Curitiba e Interlagos, isto porque o Velopark ainda não foi inaugurado, estão ou são sucata. Nenhum automobilismo, por melhor e mais competitivo que seja, pode compactuar com a situação atual do Rio de Janeiro, muito menos de Goiânia, Brasília, Tarumã, Guaporé e Cascavel – só para inumerar as pistas que precisam de reformas urgentes. A pista de Campo Grande é ruim. Londrina tem um bom traçado mas é muito estreita e na primeira saída de pista é muro na certa. Santa Cruz é interessante, mas a segurança precária. Como pode termos um automobilismo de consumo interno pior que a Argentina, que há anos não revela um piloto decente de monoposto, tem 30 autódromos – um pior que o outro – num território dezenas de vezes menor que o nosso? A resposta é que as indústrias automobilísticas que têm fábricas na Argentina são obrigadas a investir no esporte. Isso infelizmente não existe por aqui.


O ídolo

6. Falando sobre F-1 agora. Nestes anos acompanhando a categoria, seja como entusiasta e depois como jornalista, qual foi ou quais foram os momentos que mais te marcaram?
Para mim, foram marcantes as duas vitórias que vi como “arquibaldo” conquistadas pelo Nelson Piquet em Jacarepaguá, nos anos de 1982 e 1983. Pra um menino de 11, 12 anos como eu, foi a glória. Piquet foi o meu ídolo, o primeiro brasileiro que vi se consagrar nas pistas internacionais. E proporcionou pros meus olhos a maior ultrapassagem da história, aquela mesma sobre o Ayrton Senna em Hungaroring, faz 23 anos. Foi lindo, sublime, histórico, fantástico!
A decisão do campeonato do ano passado foi marcante também. Aquela corrida sob chuva, aquela loucura toda da última volta, Massa cruzando em primeiro, comemorando, achando que era campeão – e não era! Num galpão dentro do terreno do autódromo, que funciona como a central da Rede Globo em Interlagos, a gente assistia a corrida num anticlímax incrível e eu falando... “o Glock tá muito lento... o Hamilton pode passar o Glock...” E passou. Ninguém olhou atravessado, não tava secando o Massa, muito pelo contrário. Mas foi um título justo: o Hamilton mereceu ser campeão em 2009. Serve de exemplo para quem se considera minoria, um recado do tipo: “Você pode ser campeão mundial de Fórmula 1. Basta querer e ser perseverante. Sempre.”

7. Quem foi o melhor piloto da história para você? E a melhor equipe?
O melhor piloto da história? Pelos títulos é o Michael Schumacher, mas acho que pelo caráter e por tudo o que fez numa época onde o piloto era mais piloto, o melhor é Juan Manuel Fangio. Seus cinco títulos dão a medida do quanto aquele argentino era fabuloso – e com quatro marcas diferentes de carro: Alfa Romeo, Ferrari, Mercedes-Benz e Maserati.
A melhor equipe da história da Fórmula 1 não necessariamente é a mais tradicional. Escolho a McLaren, pelo profissionalismo que Ron Dennis implantou, a mentalidade vencedora e as parcerias com dois ícones do automobilismo mundial: Porsche e Mercedes, sem contar a Honda. Os alemães sempre foram exemplo de confiabilidade e os japoneses, de dedicação extrema ao trabalho, paciência e vontade de vencer. Ron sempre foi um dono de equipe determinado a vencer tudo e todos. Talvez por isso tenha angariado tantos inimigos. Eu não gostava de alguns dos métodos dele e acho que sua saída da direção da equipe foi extremamente benéfica para a categoria, como também será o banimento imposto a Flavio Briatore.

8. Gostaria que você falasse um pouco sobre o futuro da F-1. Teto orçamentário e tecnologia de ponta conseguirão andar de mãos dadas?
Investir em tecnologia demanda dinheiro, muito dinheiro. A Fórmula 1 sempre foi um esporte caro, a partir do momento em que o Bernie Ecclestone entendeu que ela era um produto e que poderia ganhar muito dinheiro – tanto que hoje é um dos homens mais ricos não só do Reino Unido como do mundo inteiro. O que é a categoria hoje em termos de organização, todos temos que agradecer ao Ecclestone. Por outro lado, os tempos são outros, com recessão e retração econômica. A categoria sempre foi um grande laboratório de peças e tecnologia aplicada em carros de passeio e nunca perderá sua vocação. O problema é prosseguir nesse objetivo cortando custos. A ideia da FIA do teto orçamentário não deu certo para 2010. Vamos ver nos próximos anos.


Faltou o título...

9. Se você pudesse escolher dois ou três nomes que não foram campeões do mundo, mas que mereceriam ter sido, quais seriam?
Escolho três, sem pestanejar: Stirling Moss, o piloto certo na época errada; e outros dois que não tinham nenhum juízo, mas que o público amava incondicionalmente e eram rápidos toda vida: Gilles Villeneuve e Ronnie Peterson.

10. Quais características fazem um piloto estar entre aqueles simplesmente excepcionais?
Profissionalismo, dedicação, altíssimo conhecimento de mecânica, visão de estratégia de corrida, muito arrojo, desprendimento e velocidade pura. Acho que essa combinação formaria o piloto perfeito. Mas mesmo os “superdotados” não são perfeitos. Basta ver os desvios de caráter que o Michael Schumacher apresentou em toda sua carreira na Fórmula 1.

11. Se você pudesse criar as regras para o próximo campeonato de F-1, como seria o seu mundial? Que pistas não poderiam faltar?
Eu voltaria com os carros com aerofólios mais próximos dos pneus traseiros, asa dianteira menor e com menos penduricalhos, pneus com mais de um fabricante – slicks, evidentemente – tanque de combustível de 220 litros nos carros e treinos classificatórios de 60 minutos sem limite de voltas, como nos velhos tempos.
A pontuação seria 20-15-12-10-8-6-4-3-2-1 e o calendário teria pistas como Paul Ricard, Spa Francorchamps, Monza, Suzuka, Silverstone e até Elkhart Lake. Se eu pudesse, das antigas, voltaria com Interlagos de 8 km, Kyalami, Zeltweg, Hockenheim da floresta negra e também com Adelaide.

12. Tirando a F-1, qual outra categoria que mais te chama atenção?
Gosto muito das provas de Endurance. Acompanhei quatro edições das Mil Milhas, duas delas trabalhando, e adorei. Leio sempre sobre Le Mans e procuro acompanhar atentamente o desempenho dos brasileiros nessas provas longas. Hoje, depois da Fórmula 1, o que mais gosto é ver 24 Horas de Le Mans – nesse ano assisti inteira, sem brincadeira, pela internet – Le Mans Series e American Le Mans Series.


A gente por Rodrigo - GP do Brasil 2008

13. Como você conheceu o Blog do Octeto Racing Team?
Acho que através de amigos comuns. Não me lembro quais. Mas achei um barato que um grupo de mulheres discutisse Fórmula 1 de uma maneira tão divertida e tão apaixonada, a ponto de levar cartazes para o GP do Brasil. Ano passado vi vocês na arquibancada, com uma homenagem ao Coulthard, fotografei-as e soube que à distância, mesmo assim, fui reconhecido. Isso é muito legal!

14. Se você fosse chefe de uma equipe de Fórmula 1 e pudesse contratar dois pilotos que fazem parte do Octeto Racing Team, qual seria a sua dupla e por quê?
Eu contrataria Nico Rosberg e Kimi Räikkönen. Os dois são bons pilotos, raramente quebram, são constantes e muito rápidos. Nico hoje merece um lugar melhor do que este na Williams, sem nenhuma dúvida. E o Kimi já provou seu valor ganhando um título mundial que parecia perdido. Aquela frieza toda esconde um grande piloto, da mesma escola do pai do Nico e do Mika Häkkinen. Aliás, a Finlândia é um espanto: teve pouquíssimos representantes na Fórmula 1 e nada menos que quatro títulos mundiais.

15. O automobilismo é realmente uma paixão nacional?
O automobilismo infelizmente não é futebol e nem a cerveja Antarctica, que usava esse slogan. Pra mim é paixão para vida inteira. Pra outros é mero business. Pra outros, não é esporte. Mas representa, pra muitos, um ganha-pão, a fonte de sustento de suas famílias. Mais do que paixão, o automobilismo é tudo isso e mais um pouco, pra mim.

Bom gente, esta foi mais uma entrevista bem bacana que o Octeto Racing Team trouxe nesta quarta para vocês.

Rodrigo, muitíssimo obrigada pela participação e pela atenção que sempre tem conosco. A gente se "esbarra" em Interlagos este ano de novo ok? hehehehe...

Beijinhos, Ice-Ludy

Comentários

Momento tiete on:
"Rodrigo!!! Sou sua fã!!!"

Ludy, que bacana a entrevista, parabéns para os dois.
Acompanho o Rodrigo desde o tempo do Saco Vazio de Gatos. Adoro as análises que ele faz de cada GP de F1, fico ansiosa esperando ele escrever.
Gosto também da cobertura de outras categorias, fico de olho, porque ele é um dos poucos que comenta a Nascar e a Le Mans.

O gosto musical é um caso a parte... enfim, o único "defeitinho" se chama Fluminense.

Aiiii... além do GP do Japão, ainda tem FlaxFlu para me matar.

viajei...
Destaque para uma parte da entrevista:
"Sua personalidade e seu caráter também são postos à prova em tudo o que você opina. E o torcedor brasileiro é muito passional." (R. Mattar sobre a função de comentarista).

Vou mandar para um certo narrador... rsrsrs

beijos para a Ludy e para o Rodrigo!

Vick
Paula disse…
Gostei da entrevista. Principalmente na parte do automobilismo brasileiro.
Rodrigo!!!

Muito obrigada por participar da nossa entrevita!!!Obrigada mesmoooo!!

bjinhos, tati

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