Octeto Entrevista: Paulo "Speeder" Teixeira

Mais um dia de Octeto Entrevista aqui no blog e como eu adiantei para vocês na semana passada, a partir desta quarta, vamos começar a conversar com nossos leitores que também são blogueiros.

Para inaugurar esta nova etapa do Octeto Entrevista convidamos um amigo muito especial, alguém que está conosco desde o começo e que vem de lá do outro lado do Atlântico, nosso querido amigo Paulo Teixeira, mais conhecido como o Speeder, do excelente blog Continental Circus.

Um bate-papo entre colegas de profissão, entre blogueiros, entre amigos unidos pela F-1 e pela internet. Leiam, porque vale muito a pena e não deixem de passar pelo blog do Speeder!

Nosso amigo do outro lado do Atlântico

1. Fale-nos um pouquinho sobre você. O que faz, quantos anos tem? Uma breve apresentação.
Bom, aqui vai: o meu nome verdadeiro é Paulo Alexandre Teixeira, completei 33 anos em Julho, e nasci na cidade de Vitória, no estado do Espírito Santo. Vivi aí até aos seis anos, altura em que os meus pais mudaram-se definitivamente para Portugal, e fui viver para Leiria, uma pequena cidade no centro do país, entre Coimbra e Lisboa. Estudei jornalismo na Universidade de Coimbra e quando acabei, fui trabalhar para uma rádio local. Essencialmente trabalhei em jornais, e actualmente estou num semanário desportivo, o Desportotal, onde escrevo sobre tudo… menos automobilismo! (risos)

2. Quando e como sua paixão pelo automobilismo começou?
Devia ter uns quatro anos quando comecei a ver Fórmula 1 nos Domingos de manhã, ainda no Brasil. Lembro-me de ver o GP de Las Vegas, no parque de estacionamento do Ceasar’s Palace, onde o Nelson Piquet venceu o seu primeiro título mundial. Vi os acidentes mortais do Gilles Villeneuve e do Riccardo Paletti, mas pouco depois fui para Portugal e perdi um pouco o acompanhamento das corridas. Voltei a ver quando a Fórmula 1 veio a Portugal, na última prova da temporada. Só a partir do ano seguinte, depois de ver a vitória do Ayrton Senna à chuva, no Estoril, é que fiquei viciado na coisa.

Visitem aqui, informação de qualidade é o que não falta

3. De onde veio a ideia de ter o seu próprio espaço virtual sobre automobilismo?
Bom, na altura em que isso aconteceu, não estava a trabalhar no meio, e não queria perder a prática. Mas também não queria fazer algo disparatado. O blog foi relativamente planeado, pois nessa altura lia os blogs do Ivan Capelli, do Flávio Gomes e do Fábio Seixas. Um certo dia de Domingo, não estava a fazer muito à frente do meu computador, decidi abrir uma página no Blogger, escrevi meia dúzia de posts e não parei até agora. E isso foi há dois anos e meio.
4. Qual a melhor e a pior experiência quando se tem um blog sobre um assunto que é movido pela paixão do torcedor, ou no caso, do leitor?
A melhor experiência neste aspecto talvez seja o facto de estares a fazer jornalismo naquilo que mais gostas, ou seja: teres uma visão mais pragmática e neutra (às vezes demasiado neutra) das coisas, e também uma oportunidade de pesquisar sobre a história desta competição, nomeadamente as biografias dos pilotos, das corridas e dos carros.
Lado mau? Tirando os anarquistas de pelotão, que te chateiam por chatear, não existem muitos. Talvez o cansaço e por vezes o excesso de posts que escrevo. Nos últimos tempos tento ser selectivo nas noticias que dou e falo de coisas que habitualmente os outros não falem. Só falo da actualidade se for necessário.

Ronnie Peterson, um dos posts especiais de Speeder

5. Depois de tantos posts já publicados, você conseguiria escolher um ou dois (ou mais se preferir) que foram realmente especiais? Aqueles que você realmente se orgulha de ter feito?
Olha… escrevi quase 3500 posts ao longo destes dois anos e meio, logo escolher meia dúzia é uma agulha num palheiro! (risos) Mas tenho posts do qual ainda tenho prazer em ler, passado esse tempo todo. A biografia do Ronnie Peterson, em Setembro do ano passado, foi algo que gostei muito de fazer, bem como a do Jackie Stewart, em Junho. O do Michael Schumacher, em Janeiro, foi mais trabalhoso, mas no final, gostei do resultado.
Contudo, tenho três posts do qual ainda me arrepio quando volto lá: um post sobre o acidente mortal do Roger Williamson, no GP da Holanda de 1973, que é eventualmente uma das mais crueis de sempre, outra que fiz sobre o 1º de Maio de 1994, onde a principio tinha dúvidas se conseguiria fazer, mas no final acabou por ser uma boa terapia, para descobrir que no final, “tinha feito o luto”.
Para finalizar, falo de um post ao qual dei o título de “I Still Remember”. Inspirei-me no texto de um americano chamado Robert Murphy, que era visitante frequente de Watkins Glen. Ele fez um texto que contabilizou todos os pilotos que morreram desde que ele se interessou pela Fórmula 1. Eu fiz o meu e deu em sete: Villeneuve, Paletti, Winkelhock, Beloff, De Angelis, Ratzenberger e Senna. E finalizei escrevendo algo do género “Como será que as pessoas reagiriam se morresse outro piloto?” E eu disse que reagiriam mal. E quando observei o acidente mortal do Henry Surtees e o acidente de Felipe Massa, na Hungria, notei que tinha razão no que falava: teres 300 milhões de pessoas a assistir a um acidente mortal tem um impacto enorme.

6. A participação feminina nas pistas ainda é tímida, mas fora delas já é grande. Temos jornalistas especializadas, engenheiras, blogueiras e torcedoras. O que você acha desta visão feminina sobre o esporte?
É bom, serve para desmistificar nas pessoas que o automobilismo é um desporto de “macho”. Elas têm outro tipo de sensibilidade em relação às coisas, devem ver muito para além das “pitbabes” e dos “pitboys”… Falta ver de novo uma mulher na Fórmula 1, pois na Indy tem três, com a possibilidade de mais algumas, como a suíça Simona di Silverstro, que lidera a Fórmula Atlantic, ou a vossa Bia Figueiredo. Ainda sonho com o dia em que verei mais de uma piloto na Fórmula 1, e que tenham talento não só para pilotar, como para pontuar e ganhar. É das poucas coisas que eu e o Bernie Ecclestone partilhamos… (gargalhada).

A F-1 fora das pistas está agitada em 2009

7. Vamos falar sobre automobilismo agora. Como você analisa a temporada de 2009 até o momento?
Esta é definitivamente uma temporada atípica, quer na pista, quer fora dela. Aquela ordem existente, McLaran vs Ferrari, foi completamente invertida com as novas regras e com o facto do Rosso Brawn ter projectado num carro excepcional, que esteve prestes a não ver a luz do dia devido à inesperada retirada da Honda da competição, em Dezembro. Depois toda a gente ficou de boca aberta quando os viram como dominadores da temporada, enquanto que Ferrari, McLaren e Renault estavam nas filas de trás, algo inacreditável uns meses antes.
Depois tivemos a luta entre FIA e FOTA pelos dinheiros da Fórmula 1. As posições extremaram-se até ao ponto de teres uma separação e um campeonato paralelo (durou alguns dias, mas foi real), mas depois da retirada em cena de Max Mosley, as coisas voltaram um pouco ao normal, embora haja algumas coisas das quais não tenho tido noticias, como por exemplo, os detalhes do novo Acordo da Concórdia.
Agora tiveste o acidente do Massa e o regresso abortado do Schumacher, que criou um “hype“ tal que já não se via desde 1994, quando o Mansell voltou às pistas europeias. Neste mês de ausência, nunca se falou tanto de Fórmula 1 como agora. Veremos como é que isto vai acabar. Acredito que o Button tem o campeonato, mas a Red Bull não está muito atrás. Tem um carro bem feito, bem desenhado pelo Adrian Newey. Este ano, aliás, é a luta entre Newey e Brawn para ver quem tem o melhor carro. Interessante…

8. Se você pudesse escolher dois ou três nomes de pilotos que não foram campeões do mundo mais que mereceriam ter sido, quais seriam?
Neste aspecto, vou com a maioria: acho que Stirling Moss, Ronnie Peterson e Gilles Villeneuve deveriam ter ganho um título mundial. Mas digo também que Bruce McLaren, Clay Regazzoni e Francois Cevért deveriam estar na lista desses “campeões sem coroa”.

9. Qual a visão que vocês, estrangeiros, têm dos pilotos brasileiros atuais: Felipe Massa, Rubens Barrichello e até mesmo Nelson A. Piquet, que agora já está fora da categoria?
Toda a gente por aqui tem respeito pelos pilotos brasileiros, embora todos saibam que nenhum deles é sobrehumano como foram Piquet e Senna. Muitos olham para Massa como um potencial campeão do mundo, pois está na Ferrari, embora ache pessoalmente falta qualquer coisa para que seja um piloto excepcional. Mas esforçou-se imenso e evoluiu bastante.
O Rubens Barrichello é um caso de sobrevivência. Aqui não tem a noção de como é este piloto como existe no Brasil. Aliás, conheço pessoas que já me perguntaram porque ele é tão atacado no vosso país. Digo-lhes que vocês só gostam de vencedores… Mas se ele está há 17 temporadas consecutivas na Fórmula 1, é porque tem qualidades, porque senão ele já teria saído há muito tempo.
O Nelson Piquet… primeiro ficaram curiosos, por causa do nome, depois um pouco desiludidos porque esperavam que fizesse o mesmo que o pai. Contudo, no final ficaram um pouco compreensivos, porque sabiam que ao lado de um piloto como Fernando Alonso, a vida dele não iria ser fácil. Eu próprio, que não tinha uma opinião muito favorável dele, agora vejo mais como vitima, por causa da maneira como o Briatore faz as coisas na Fórmula 1.

Um piloto de verdade

10. Quem foi o maior piloto da história da Fórmula 1 para você?
Ui… essa pergunta é complicada. É como perguntares se gostas mais do teu pai ou da tua mãe. Se formos para as frias estatísticas e números, é o Michael Schumacher. Mas como ser humano, nunca gostei muito. Veste-se mal (risos) e nem sempre foi o piloto mais certo em termos de fair-play… Para mim, o piloto que teve maior impacto, e que neste momento não tem o reconhecimento que merece, porque ainda está vivo, é o Jackie Stewart. Por ter sido o piloto mais dominante da sua era, por ter sido um paladino da segurança, por ter sido bem sucedido em tudo o que fez, como piloto, comentarista e chefe de equipa. E pelo que me contam, como ser humano é um “gentleman”.

O capacete nosso entrevistado já tem...

11. Se você fosse um piloto de Fórmula 1, em que circuito você gostaria de vencer?
Gostaria de ganhar nos clássicos: Monza, Spa-Francochamps, Silverstone e Mónaco. E gostaria de vencer no velho Hockenheim, a das longas rectas no meio da floresta, e em Zeltweg, antes das reconstruções dos anos 90. E no novo Portimão, pois é bem desenhado e tem o seu quê de desafiador.

Octeto Racing Team

12. Como você conheceu o Blog do Octeto?
Já não me recordo claramente. Mas acho que provavelmente conheci-vos uma semana ou duas depois de terem entrado em acção, em novembro de 2007, e não sei bem em que circunstâncias. Creio que foi quando via as vossas respostas num outro blog, e segui o link. Descobri-vos e achei engraçado aquilo que faziam, especialmente na parte dos bastidores.

13. Continental Circus e Octeto Racing Team, você consegue ver características em comum entre estes dois blogs?
Para além do amor compartilhado pela Fórmula 1? Bom, conseguimos ser informativos sobre a actualidade, embora eu seja menos “cor de rosa” do que vocês. Talvez seja porque nasci em Marte e vocês em Vénus… (gargalhada)

14. Se você fosse chefe de uma equipe de Fórmula 1 e pudesse contratar dois pilotos que fazem parte do Octeto Racing Team, qual seria a sua dupla e por quê?
Pergunta relativamente complicada, confesso, porque toda aquela gente é talentosa. Mas no final ficava com Nico Rosberg e Jarno Trulli, porque aliava juventude e experiência. Acho que Rosberg Jr. vai ser tão bom como pai, ou seja, vencerá corridas e será pretendente ao campeonato. Quando ao Trulli, é mais experiente e apesar de estar numa curva descendente da sua carreira, ainda é útil e tem muito para dar a qualquer equipa que estiver.

15. O que você acha que o blog do Octeto trouxe de diferente para a sua forma de ver a Fórmula 1?
Deu uma visão feminina das coisas. Não vou dizer que é uma “revista cor-de-rosa”, mas posso dizer que conseguiu demonstrar que os pilotos têm um lado humano, e não estão ali só para pilotar carros de milhões de dólares, assinam autógrafos e vão para a sua casa milionária. Tem mulheres e filhos, são tão normais como todos nós, apenas com a diferença que ganham muito mais do que nós (risos).


Bom gente, espero que tenham gostado da entrevista com o Paulo, a quem eu gostaria de agradecer imensamente pela parceira, pela excelente entrevista e também pela amizade. Foi um prazer Paulo!

Semana que vem, aguardem, o entrevistado é outro blogueiro maneiríssimo, eu diria. Vocês também vão adorar!!!

Beijinhos, Ice-Ludy

Comentários

16valvulas disse…
Bonita entrevista com perguntas que revelam a sensibilidade feminina na abordagem do tema Desporto Motorizado.

Continuem o bom trabalho!
O Speeder é gente muito boa e as meninas do Octeto tiveram muito feeling em pegar o melhor dele. Ótima entrevista!
Speeder, Ludy!

Sem palavras para esta entrevista.
Speeder sempre nos apoiou muito, desde o nosso início.
Muito obrigada!

Vick
Speederrrr!!!!!Ameiiii...

O que falar deste blogueiro!! Muito obrigada é pouco!! O Continental já é parte nesta nossa blogosfera automobilística, e como disse a Vivian, ele nos ajudou muito desde o começo do Octeto!!!

Parabéns para vc e para a minha irmã, e aniversariante!!!!!

Nota 10 para vcs dois!!!!

Bjinhos, Tati
Unknown disse…
Fantástica entrevista, o cara sabe do riscado mesmo...
Speeder76 disse…
A todos:

Agradeço a entrevista e os elogios que fizeram a ela. Foi uma oportunidade unica que me concederam, e agradeço imenso por isso. Vale a pena escrever e falar sobre algo que amamos: o automobilismo.

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